O gênio inesquecível do Desenhista Buscema
A história de sucesso do personagem Conan, se interliga diretamente a carreira de um dos maiores quadrinistas que o universo das HQs já conheceu: o do desenhista John Buscema.”Big John”, apelido pelo qual ficou conhecido, iniciou sua carreira na década de 40, já realizando alguns trabalhos para a Marvel. Nas décadas seguintes, ele se projetaria como um dos mais talentosos e referenciados artistas a serviço daquela editora, tendo créditos em dezenas de aventuras com os mais variados personagens.
Já considerado um astro do quadro editorial da Marvel nos anos 70, o John esteve ligado ao personagem Conan, desde o princípio de sua concepção. Em 1970, após Roy Thomas negociar e adquirir os direitos de adaptação e publicação do bárbaro, ele ficou encarregado de roteirizar as primeiras aventuras do cimério. Quando pensou num nome para a parceria com aquele personagem, de imediato ele sugeriu o Buscema. John não conhecia o Conan, então o Roy, que também estava se familiarizando com ele, emprestou ao amigo, alguns livros que tinha comprado. Ao ler, o John ficou fascinado e empolgado, pois o Conan seria não só um personagem desafiante, uma vez que teria que ser desenvolvido todo um universo original ainda não visto nas Hqs, como ao mesmo tempo, ele iria tirar o John de sua zona de conforto, o fazer se afastar um pouco dos personagens mais tradicionais. Ao mesmo tempo, apostando no astro, Roy tinha certeza que iria atrair para o Conan, os fãs de personagens como Surfista Prateado ou Vingadores, que faziam sucesso justamente pelo trabalho do grande Buscema.
Eles só não contavam com a interferência do chefão da Marvel por aqueles tempos, o Martin Goodman, que sugeriu a contratação de um outro desenhista. O motivo é que o Conan era totalmente desconhecido entre os fãs de quadrinhos da época, iria estrelar um gênero novo, (espada e feitiçaria) e ninguém tinha certeza que ele poderia emplacar. John era considerado um artista muito caro por aqueles tempos, para ficar responsável por um título novo e que corria riscos de rejeição. Colocado de lado, o Buscema abriu espaço para o desconhecido desenhista britânico, Barry Windsor-Smith. É mais do que justo, destacar os méritos do Barry, que, ao lado do Roy, trouxe à vida, todo o universo hiboriano, no início dos anos 70. O Smith desenvolveu o designer do Conan, além da época que ele vivia suas mirabolantes aventuras, sem falar que foi responsável pela concepção de alguns dos mais clássicos personagens de sua mitologia, conhecidos até os dias atuais. Barry também esteve envolvido em uma das maiores sagas da trajetória do Conan: O Cerco de Makalet, além de criar outros arcos que são super-referenciados. A parceria entre esses dois, durou 3 anos, de 1970 a 1973,mas, antes da conclusão da saga do cerco, Barry abandonou o barco. Mas ao fazer, o Conan já era um sucesso de vendas absoluto. Sua saída, sem concluir aquela saga, deixou a direção da Marvel em problemas. O Smith ficou reconhecido pelo detalhismo extremo com que ilustrava as aventuras do Conan. Muitas vezes ele passava até 2 dias na ilustração de uma única página. Sua perfeição rendeu por aqueles tempos, várias premiações para aquele título. Com a sua saída, Thomas não demorou a encontrar a solução, e finalmente pôde contar com o trabalho do John Buscema, sua primeira opção.
John pegou o bonde andando, seu primeiro trabalho com o Conan, seria justamente as 2 aventuras que encerrariam a Saga de Makalet. Ao receber o convite, uma coisa que ficou clara, é que ele não poderia dedicar o detalhismo do Barry, uma vez que ele era responsável por vários outros personagens, e não tinha como perder dias, ilustrando uma única página. Por seu comprometimento com outros títulos, a única exigência que ele fez por aquele período, foi que a arte – final ficasse sob a responsabilidade de seu irmão mais novo, o também badalado Sal Buscema. Um dos principais requisitos seus, era que sua arte fosse preservada, e o Sal seria a pessoa correta para essa tarefa.
Era o princípio de uma trajetória que se estenderia por mais de uma década. O John ficaria tão associado ao Conan, que, possivelmente, quando se faz um raio x de sua obra por extenso, certamente a principal referência é seu trabalho com esse personagem. Buscema carrega entre tantos méritos, o de ter concebido o designer definitivo do bárbaro, e o que seria copiado pelas dezenas de nomes que o sucederiam. Enquanto o Barry Smith concebeu um Conan muito mais jovem, com uma musculatura esbelta e definida, o John redefiniu o bárbaro como o conhecemos: extremamente alto, feições embrutecidas, músculos de ferro, capazes de impressionar qualquer fisiculturista. Seu Conan era uma fera indomável, pronta a encarar todo e qualquer desafio.
Smith sem dúvidas, tem até hoje, todo o carinho, respeito e admiração dos fãs, por ter sido o desenhista inicial. Suas histórias são verdadeiros clássicos. Entretanto, não demoraria para o John o superar e conquistar o reconhecimento como o melhor e maior desenhista do Conan. A sua passagem pelo bárbaro se iniciou a partir do Conan, The Barbarian 25, lançado em 1973. Ao concluir aquele trabalho, ele se firmou como o desenhista principal, dando sequência a centenas de aventuras, a grande maioria, escrita pelo Roy Thomas. Inicialmente, seu trabalho acabou ganhando um arte – finalista inesperado: o Ernie Chan. O problema é que o seu irmão, também com muitos projetos sob sua responsabilidade, não tinha como permanecer no cargo de arte- finalista oficial. Curiosamente, o John não gostava do trabalho do Ernie, entretanto, eles formariam uma das maiores parcerias já vistas em todos os tempos.
John foi o principal nome por trás de alguns dos maiores arcos ou sagas vividos pelo bárbaro. Entre as diversas, vale destacar: A Maldição da Lua Crescente, clássico dos clássicos, onde o Conan é até crucificado, a readaptação da Torre do Elefante, Os Profetas do Círculo Negro, também conhecida como a saga da princesa Yasmina, A Fronteira do Fim do Mundo, ou a saga da batalha com os pictos, As sagas da princesa Chabela, do Olho de Erlik, Conan, o Conquistador, onde o bárbaro assume o trono da Aquilônia, finalmente se coroando rei, a Caveira dos Mares, O Tesouro de Tranicos, Conan das Ilhas e Conan na Cidade dos Magos. Entretanto, quando se fala em sagas grandiosas, nenhuma supera A Rainha da Costa Negra, que se estendeu por 1 ano e meio, sob a batuta do John, Roy e Chan. John ilustrava não somente o Conan, The barbarian, como foi um dos principais nomes por trás da lendária Savage Sword of Conan, lançada em 1974, como também respondeu por Conan Rei e Conan a Cores. Bom frisar sua parceria com outros dois arte – finalistas que também marcaram época e ficaram fortemente associados a ele, da mesma forma que o Ernie Chan. Foram o Alfredo Alcala e o Tony De Zuñiga. Esse trio praticamente dominou os primeiros anos da Savage Sword, e se tornaram lendários até hoje. Porém, o grande parceiro do John, foi realmente Ernie. O grande sucesso que o Conan viveu nos quadrinhos, se deve principalmente à parceria do John com o Roy Thomas, grande roteirista das sagas citadas nesse texto, além de outros arcos menores. Quando o Roy se afastou por um período, Buscema continuou ligado ao Conan, dividindo créditos com os roteiristas Bruce Jones e Michael Fleischer. Só que, para os fãs, um trabalho do John, sem a presença do Roy e vice – versa, acabava se tornando contrastante e digno de muitas críticas. A bem da verdade, o auge do Conan se deu enquanto durou aquela parceria. Nenhuma outra dupla conseguiu igualar o sucesso. Mesmo que o Conan estrelasse alguma aventura escrita pelo Roy e desenhada por Ernie Chan, que se tornaria por um período, o desenhista oficial, a ausência do John era extremamente sentida. John possui créditos com o Conan em quase 200 aventuras, lhe valendo o reconhecimento como o artista, ou um dos, mais produtivos com um único personagem. Sua associação era tamanha, que ele fez desenhos e pinturas para a produção do clássico filme com o herói, estrelado por Arnold Schwarzenegger, de 1982. Foi também responsável pela quadrinização do Conan, o Destruídor, de 1984. Ao todo, John trabalhou com o Conan, de 1973 a 1987, contabilizando 14 anos lidando com aquele personagem. Após um longo hiato, ele retornou à Savage Sword em 1991, realizando mais 20 trabalhos para aquela revista. Depois, ele produziu Conan the Rogue, uma graphic novel planejada, desenhada, pintada e colorida pelo próprio. “Big John” nos deixou em 10 de janeiro de 2002, após perder a luta contra um câncer. Mas viverá para sempre na lembrança principalmente dos fãs do Conan. Diversos desenhistas o sucederam, muitos também com grande renome e reconhecimento da indústria dos quadrinhos. Nenhum ousou ser comparado ou conquistou a mesma referência. Passadas décadas de seu trabalho, ele ainda continua sendo o maior artista a desenvolver e trabalhar com o bárbaro.